quarta-feira, 27 de março de 2019
Apostasia
"Neste mundo, república de vento
Que tem por rei um acidente(...)"
Gabriel Bocangél (1603-58).
Encontrar reflexos e duplos: o dever do solitário encontra-se com a máquina celibatária. Desaparecer, explorando a sombra.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Experiências em 2015
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Ana
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Mais uma volta
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Escusas, como sempre
terça-feira, 17 de maio de 2011
UTILIDADE PÚBLICA
Na foto, Djinn de El Khaimah (o demônio). |
sexta-feira, 29 de abril de 2011
O avô de uma amiga foi comandante do Rei Husseim da Jordânia
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Quanto será preciso dizê-lo?
Voltei a pé. Havia apenas uma poalha que, ao contrário de incomodar, me ensinava a colocar as mãos para dentro dos bolsos da calça e encolher o corpo, como se sentisse frio, mas não sentia, não ali. O frio, o vento e a chuva estão sempre cá dentro em algum lugar que eu não consigo identificar (mas porque tenho córtex pré-frontal, não sou tão ingênuo, e o romantismo soaria tolo neste momento, então sei que é na cabeça). O enterro foi sereno, triste como todo enterro, banal como todo enterro. Uma pessoa querida, pai de um bom amigo, a família, consternada, chorou muito. A morte não me abate. Mas a vida (não nessas ocasiões, mas em todas as outras) sim. Considerei digno da parte de deus deixar o dia nublado, um vento frio (eu não sinto frio, mas estava um fiozinho aconchegante) e a garoa tão fina que parecia que alguém tentava chorar, mas sequer podia fazê-lo. A morte sempre será um problema dos vivos, os mortos não têm problemas.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Livros
Tuberculose
quinta-feira, 24 de março de 2011
Poesia?
a Tatiana Machado
O debulho de existir
É auto-debulho
Eu não sou trigo
E no entretanto trago o cigarro apagado
Se um dia o for tragar
Será possível torrar o trigal amarelo
Com o fósforo do devir.
A existência precedeu a essência
Porque a essência nunca se decidiu em ser
O que vem depois do nada é o estampido
Pois não se morre estalando os dedos
Certo estou de não ser trigo
E de que é auto-debulho buscar a essência
Sem maneira de a ter.
De mais a mais
Na triga existência táctil de projétil e aleurit(o)
Sempre pode o estampido
Valer pelo ceifar da colheitadeira.
Zlapt! Stuumm!
junho de 2004.
terça-feira, 22 de março de 2011
On line
Ninguém me responde. Estão todos calados neste momento. O que está levando o meu projeto para o buraco. A amígdala é, no cérebro, quem percebe o perigo e prepara fisicamente o corpo para a ação (no meu caso, bater em retirada, tomar Rivotrill e deixá-los emputecidos comigo e de saco cheio deste blogue). E me lembro, também, que o Córtex Cingulado Anterior é o que usa as experiências passadas para prever e calcular os riscos do momento em questão (tenho em mente que textos desta natureza receberam desprezo ou péssimos comentários e afastaram alguns dos já parcos leitores desta página para outras pradarias).
p.s. - este texto não teve qualquer revisão. Algo que nunca mais se repetirá neste blogue.
terça-feira, 8 de março de 2011
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Um texto sobre coisa alguma (evitem a leitura caso tenham algo melhor a fazer)
Preciso de fato passar a escrever os textos para esta Bazófia na segunda-feira (ou em qualquer dia anterior à terça, ou mesmo na terça antes da análise). A questão é que escrevendo depois da análise, fica difícil não abordar algum tema lá discutido ou suscitado, como fiz na semana passada. O diabo é que acabei atrasando para escrever, de novo, e agora não consigo pensar em nada descolado de um algo que foi tratado com o psiquiatra. Enfadonho para vocês poucos leitores e para mim ter de iniciar, novamente, um escrito com um pedido de desculpas (este contrito, afinal), mas o assunto de hoje vai resvalar para a análise.
Houve, num certo momento, uma pergunta que me encabulou: do que você realmente gosta? Independente (para esta crônica) de qual era o tema, o que me fez pensar por mais de dois minutos (pagos) e depois voltar refletindo ao dirigir o automóvel foi a base da resposta dada: eu não gosto de nada. Quero dizer, não é bem que eu não goste de nada, mas gosto de algumas coisas só assim assim. Um gostar transcendente, efusivo, vitorioso, apaixonado, não é uma sensação que me seja conhecida. Mas desde quando (e agora tanto faz se quem me pergunta é o analista, o teto ou vocês, corajosos poucos leitores)? Desde sempre, desde que me lembro, desde o dia em eu perguntei para minha mãe, com cinco anos, se todos iríamos morrer de que adiantava viver (não me recordo da resposta – o que só isenta meus pais por eu ser uma pessoa tão sem graça). Eu tenho muitos livros pois gosto de ler. Tenho uma cachorra, porque gosto de cachorro. Corro a pé porque me sinto bem correndo. Bebo algumas coisas com meus amigos porque gosto de alguns amigos e de beber. Já amei, já fui amado porque amava as pessoas que me amavam (ou não) naquele momento. Mas quando olho para trás (mas sobretudo para frente e para o agora ) nada me empolga ao ponto de me sentir impelido a viver, a buscar coisas novas, ainda que sejam nas coisas velhas de que gosto um pouco.
(Abrirei um parêntese-parágrafo grande para falar sobre o presente. Drummond dizia num poema que o que importava era o tempo presente a vida presente – sou repetitivo demais, cito Drummond e citarei Sêneca, que foram ambos citados na semana passada – e Sêneca tem uma belíssima frase que diz "omnia aliena sunt, tempus tantum nostrum est": "tudo nos é alheio, somente o tempo é nosso". Para os latinos a palavra tempo era sinônimo de tempo presente, assim como a palavra amor representava amor carnal, apenas. Este tempo presente é um algo tão paralisante que mesmo tentando recompor os pedacinhos do que fui para tentar melhorar o que serei, nada consegue me dissuadir de que tudo quanto não é o agora é falso. Talvez por isso esta minha inclinação de cabeça, a tendência a melancolia, a forte sensação de que nada importa realmente. Sendo menos erudito (o que de fato não sou e ando me cansando dessa fraude que eu mesmo inventei) gostava de cantar a música do Paulinho da Viola (que prefiro na voz da Teresa Cristina): "(...)meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim, eu sou assim e assim morrerei um dia (...); nunca tomei parte nesse enorme batalhão, pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão(...).". Fim do parêntese-parágrafo).
Creio que enveredei pelo tema do gostar ou não gostar de alguma coisa porque ando angustiado com isto de escrever. Eu não sinto mais vontade de escrever. Não tenho vontade de vir aqui ao computador, olhar para o ecrã em branco do Word e ter de pensar em alguma coisa para saltar na vista da Bazófia. Claro que uma vez escrito quero comentários, abraços e os louros da vitória, e é claro, também, que não sou hipócrita de dizer que escrevo para não ser lido. Mas isso tudo descamba na maldita vontade assim assim, nessa constante sensação de esterilidade, de insuficiência, de ilegitimidade. Gostava de saber o que raios as poucas pessoas que por cá aparecem vêm procurar. Mas também, sem ingenuidade: meus leitores são pessoas do meu trato pessoal, sem eufemismo, gente que gosta de mim (o que é mais impressionante do que gostarem do meu texto), portanto se escrevesse sob pseudônimo, teria dois leitores (eu mesmo e um a quem não resistiria contar que era eu). Aliás, hoje, conversando com uma leitora deste blogue (creio ainda ser) que não se manifestou desde o reinício, ela me disse que não gostou nem um pouco do último texto. Eu fiquei tão feliz. Pedi-lhe, sinceramente, que escrevesse publicamente o seu desagrado. Não sei se serei atendido, mas gostaria muito. Porque se estou enfadado de digitar as teclas juntando palavras que juntas não fazem o menor sentido, como é que ainda ouço alguns elogios pelo que escrevo? Tem pé de couve aí, mas tem mesmo.
Não me esqueço, também, que muitos cronistas (e notem que não me acho um cronista) costumam escrever coisas sobre coisa alguma (quem melhor o faz é o Carlos Heitor Cony). Cony escreve coisas sobre coisa alguma falando de tanto que o virado dá liga (há uns outros que escrevem porcarias tão grandes quanto esta que vocês estão lendo agora). Por que eu não paro então de escrever agora e diminuo a perda de tempo dos meus parcos leitores, já que acabei de admitir que escrevo um texto sobre coisa nenhuma? Prometo que não é para testar a paciência de ninguém, mas apenas porque ainda não consegui pensar no raio do título que terei de dar a este texto (que tem que sair antes da meia-noite para que eu não seja além de tudo um blogueiro mal educado). Mas vamos para o fim.
Eu não sou blasé. Nem nefelibata, porque seria muito fácil. Me sinto assim mais como um Polônio (evidentemente sem um Shakespeare a me espetar), escrevendo coisas supostamente interessantes para um blogue supostamente lido (aliás, talvez a solução esteja na loucura pura e simples, cito Polônio: "(...)uma felicidade que a loucura alcança às vezes e que a razão e a sanidade não têm chance de encontrar" – Hamlet, ato II, cena II). A frase polônica afinal vai de encontro à minha predileta dos últimos anos: " a ambiente perpétuo do homem lúcido é a angústia". Blablablá. Pronto. Acabo de publicar um texto que não diz absolutamente nada, cumpri minha obrigação marciana e torrei a paciência de quem porventura (espero que tenham sido poucos, eu juro) tenha chegado até aqui.
Desculpem-me.
p.s. – uma vez escrevi num texto (ou numa conversa, não me recordo): "(...)essa urgência incompleta, fora das coisas, fora de mim, essa angústia do fim que nem se estivesse à porta seria...". Para ver como em qualquer circunstância, sobretudo escrevendo, é possível mentir.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Correr e a morte
Estive no consultório médico a ver se conseguiria sanar um problema ortopédico que me impede de correr. Correr é, para mim, muito mais importante do que ler e incomparavelmente mais importante do que escrever. Já sei (o analista me contou) que não devo transformar o esporte numa panacéia, pois simplesmente posso perder a possibilidade de fazê-lo e não dá para enlouquecer por isso – a aliteração é proposital porque me deu a idéia de pistão (ele não comentou, mas há outras panacéias – não na minha vida, claro esteja – como o amor, o trabalho, a bebida ou, porque não? a própria análise).
Eu vejo isso mais ou menos como desbastar arestas. Não no sentido do confronto entre o dionisíaco e apolíneo (porque não creio que haja espaço de crescimento e muito menos, por óbvio – ainda que a carga de Apolo a carregar seja justamente o contraponto pérfido do mito – esteja já finalizado como o deus sol), mas no sentido de um joanete. Não sei se se desbastam joanetes. Quem sabe uma lixa (normalmente se troca o calçado, acredito). Aqui é uma lima que vai esboroando o excesso de um conjunto que não é estátua, nem escultura, tampouco arte, que de tão insípido talvez nem seja um arquétipo. Fazendo luz nessa presunçosa ladainha pseudo-erudita (vulgar, pilantra e pedante, como tudo o que sou): alongamento para o joelho, musculação para a perna e voltar a correr só não são uma panacéia porque tudo é panacéia, e quando tudo é alguma coisa, matematicamente não é coisa alguma.
Chegamos ao ponto fulcral, diria o antigo esculápio ou o militante. Nada faz o menor sentido. Tenho insistentemente citado e falado de Aubade do Philip Larkin porque quando tudo caminha para uma despedida que só pode ser silenciosa e brutal, eu não consigo enxergar a única consolação que é o humor. Larkin não vê graça nisso, e eu não vejo também. Outro poeta vê, e acredita que todos meditemos na segunda lei da termodinâmica, embora saiba que todos os trilhos vão dar no matadouro. Eu sempre achei que o caminhar levaria a uma possível confrontação com a tranquildade da certeza inexorável e por isso durante muito tempo gostei da frase do Luis (o da Natureza da Mal) que dizia mais ou menos assim (aliás esta frase está repetida incontáveis vezes em incontáveis textos barra à baixo): “o momento de grande reconciliação com a falta de sentido de tudo”. Mas esses momentos têm se tornado raros e não mais freqüentes com o passar do tempo (tempo que hoje em dia assinalo através da posologia de trecos como clonazeplam, flunitrazepam e isrs de paroxetina – aliás esta porcaria de texto forçado, arrancado e horrível é sob os efeitos cada vez menos reconfortantes desses nomes difíceis - em certo sentido, como escreveu Sêneca, todos os remédios são paliativos, porque é possível vencer a doença mas não a morte).
Mas como não pretendo matar meus pouquíssimos e pacientes leitores antes de a mim mesmo (o que seria uma indelicadeza, mas sobretudo um desperdício do meu tempo), a morte, como disseram tantos outros (mas o que me contou por último com ênfase sociológica foi Norbert Elias), é um problema dos vivos, os mortos não têm problemas, este texto vai parar por aqui com só mais duas ou três palavrinhas. Drummond ensinava que só valia a pena fazer citações quando elas fossem totalmente inesperadas e que também deveríamos evitar as frases de efeito. Mas como parece cada dia mais ficar claro que não posso seguir os conselhos do itabirano e muito menos criei um estilo que me permita fugir da blague de uma citação ociosa, deixarei a pergunta seminal que martela a minha cabeça da hora em que acordo (sabe o fígado ainda o quanto dopado) à hora em que vou dormir (dopado): "Se não sabemos nada daquilo que aqui deixamos, que importa deixá-lo antes? Seja o que for". (Hamlet, ato III, cena II). Já alguém disse mesmo que o príncipe era mais sábio que o próprio bardo. Acho que a prova é que somente um morreu.
p.s. - já me desculpei, mas o faço de novo por o texto não ter saído na data combinada, às terças-feiras.