a Tatiana Machado
O debulho de existir
É auto-debulho
Eu não sou trigo
E no entretanto trago o cigarro apagado
Se um dia o for tragar
Será possível torrar o trigal amarelo
Com o fósforo do devir.
A existência precedeu a essência
Porque a essência nunca se decidiu em ser
O que vem depois do nada é o estampido
Pois não se morre estalando os dedos
Certo estou de não ser trigo
E de que é auto-debulho buscar a essência
Sem maneira de a ter.
De mais a mais
Na triga existência táctil de projétil e aleurit(o)
Sempre pode o estampido
Valer pelo ceifar da colheitadeira.
Zlapt! Stuumm!
junho de 2004.
4 Pitacos:
então, eu não gostei quando li pela primeira vez. Então esperei, já que vc me conquistou literariamente, deveria ser necessário um pouco mais de tempo, uma primeira, uma segunda, talvez um monte de outras leituras. Esperei um pouco... o cheiro de pólvora... acho que o ritmo foi o que me assustou no começo, sabe? algo como girar um tambor com apenas uma bala dentro, essa coisa de desiquilíbrio em círculo... reli.
Então, continuo certa... eu gosto, gosto muito... com todas as facas, com toda a vertigem e com as víceras expostas (suas ou de qualquer outro que não seja), eu gosto do que você escreve (deveria usar palavras mais superlativas, verbos mais intransitivos, mas ainda não). As onomatopéias me acordaram. Depois te tanta coisa calculada, elas parecem alguém saindo da água!
disse que ia nos presentear com um texto melhor e manda esta porcaria. Vai longe.
"A vida inteira que podia ter sido e não foi", pensei.
Diferente do tom de poemas de Bandeira que falam sobre a morte, aqui todo esse 'barulho' anuncia uma vida que não "é", talvez pela não-interpelação por uma ideologia que sirva, que constitua enfim um sujeito capaz de aplacar sua principal contingência (Stuumm!).
Mas como poesia a gente sente, eu senti uma barulheira danada pra anunciar um alívio, ufa! Há sempre uma saída, e aqui na Bazófia, a saída é sempre a mesma a se esperar. Stuumm!
É difícil comentar poesia! Ainda bem que depois de lançado, o que se escreve não é mais do autor, aí a gente se sente mais à vontade pra se apropriar de.
Beijo.
Fiquei lisonjeada pela dedicatória! Ou orgulhosa mesmo... ainda que o desfecho trágico permita certa dubiedade na leitura dela.
Mas, concordo com a Lívia, é difícil comentar poesia. Eu gosto do poema, pela reflexão existencialista, pela ironia de alguns versos e pela cadência das aliterações. De qualquer modo, não me sinto em condições de escrever mais a respeito, de arriscar uma reflexão mais aprofundada. Ao menos não aqui, em público.
Beijo e obrigada pela dedicatória.
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