terça-feira, 22 de março de 2011

On line

Ferreira Gullar hoje e Fernando Pessoa antes diziam que o sujeito nasce poeta (conceito ao qual se opunha visceralmente João Cabral De Melo Neto). Como eu não sou poeta e não espero uma epifania em dezenove minutos (tempo que me resta para postar algo na Bazófia antes de a quarta-feira chegar) que vá me salvar de, além de falsário, seja um descompromissado com meus assíduos nove leitores (andei progredindo, me lembro de anteriormente citar entre quatro e cinco), vou tentar uma experiência nova. Nova não do ponto de vista contemporâneo, porque tudo se faz on line (odiosa expressão), todo mundo se conecta, conversa e se expõe pelos twítters, facebooks, msns da vida, numa simultaneidade que, embora não saia de um bairrismo virtual (isso será tema de crônica futura), não deixa de ser algo extraordinário. Então vamos à proposta: a Bazófia desta terça-feira, agora dezesseis minutos para a meia-noite, será feita interativamente, com quem estiver ao vivo nos meios virtuais comigo (no quarto estou só de fato, apenas ouço, ao longe e ao largo, os latidos da Nua, minha border collie manca). Se não der certo, começo de novo, do zero ou do nada, com a data afixada em terça-feira. O compromisso aqui é com a pontualidade e a palavra do escriba, não com o senso estético, a verdade ou a felicidade prazerosa dos possíveis leitores, esses exigentes seres que me açoitam (agora são doze minutos para a zero hora do dia 23 de março de 2011). Não adianta me dizerem que encho lingüiça, é óbvio. E aqui embora não fujamos, fingimos que.



Pronto, já está lá. Postado às 23h50min. Agora, qualquer reparo, acerto, correção ou adição que eu faça no texto, o blogue acatará como termo inicial o horário da postagem primeva, o que me faz não ser um mentiroso (embora eu esteja aqui justamente comprovando que estou sendo fraudulento com meus leitores). Acabo de receber uma sugestão sensata: que tal se mudasse o dia de publicação da Bazófia para a quinta-feira, ao invés da terça. E me perguntam porque afinal eu escolhi a terça-feira para o dia de atualização do blogue. Vou contar esta história, ao vivo:



(Agora falta exatamente um único minuto para a meia-noite) Eu escolhi a terça por três motivos básicos: motivo número a) quando, há anos atrás, publicava uma coluna no jornal "O Imparcial" de Araraquara, ela saía (por puro acaso), nas terças-feiras; motivo número b) Há um texto, que eu considero importante para o meu desenvolvimento como pseudo-cronista que se chama "Terça-feira"; motivo número c) eu cria, sinceramente, que aos domingos teria mais tempo de produzir um texto que poderia ser revisto na segunda-feira para sair logo à manhã da terça.



Tudo que vem agora, é sacanagem da grossa: meia-noite e três minutos marca o relógio do meu notebook. Nesta altura haverá quem esteja invocando o tríptico do príncipe Hamlet: "words, words, words", mas eu respondo com Camões e o velho do Restelo, invocando a invocação para dizer que me deixem tentar, oras: "quem inventou de colocar vela tão grande em lenho tão frágil?". É o risco da aventura a que me propus (mas só porque não tinha outra alternativa). Mas por favor, quando pensarem que os leitores que virem este texto amanhã, inteiro e pronto, acharão uma porcaria ridícula cuja intenção não servirá de nada, já que a simultaneidade a que me proponho não será mais verificável, mesmo assim, não me olhem assim, só as crianças pobres e famintas merecem compaixão.



Alguém me avisa que preciso explicar por que, então, não mudo para outra data. E eu digo: vou mudar. Às terças-feiras não poderá ser. Não escrevo aos fins de semana, a segunda-feira é o dia dela que mais me reserva surpresas e a terça-feira é do Carlos Heitor Cony, como já escrevi textos e textos abaixo. Então tive uma idéia (esta minha mesmo): que tal se eu passasse a escrever às quintas-feiras? Sugiro às quintas-feiras porque minhas quartas são reclusas absolutas à leitura e inútil faina do xadrez, de modo que posso me organizar, caso nada surja de preparado nos dias todos anteriores, a ficar de caso e prosa com a prosa que colocarei no ar (nuvem é o termo corrente). E ademais (mas isto não o posso prometer agora), quem sabe já não saio com um texto minimamente descente já para a quinta-feira, 24 de março, como escusa por esta porcaria de agora?


Ninguém me responde. Estão todos calados neste momento. O que está levando o meu projeto para o buraco. A amígdala é, no cérebro, quem percebe o perigo e prepara fisicamente o corpo para a ação (no meu caso, bater em retirada, tomar Rivotrill e deixá-los emputecidos comigo e de saco cheio deste blogue). E me lembro, também, que o Córtex Cingulado Anterior é o que usa as experiências passadas para prever e calcular os riscos do momento em questão (tenho em mente que textos desta natureza receberam desprezo ou péssimos comentários e afastaram alguns dos já parcos leitores desta página para outras pradarias). 



Meia-noite e vinte e oito. Já não posso mais enrolá-los. Evidente que não deu certo a minha idéia de escrever e publicar ao vivo a Bazófia de hoje. Confesso que quando me sentei aqui, há pouco mais de quarto de hora para publicar, imaginei que talvez surgisse um exercício que pudesse ser interessante. Não foi, peço desculpas. Parece-me que os blogues estão morrendo, li isso no caderno Tec (antigo Informática na Folha, aliás, mesmo caderno que deu ensejo ao primeiro texto desta Bazófia lá há tantos anos atrás). Os blogues de moda, os bons blogues jornalísticos, os blogues informativos em países cuja imprensa é cerceada e os bons blogues de fato, hão de permanecer. Este, não é nenhum deles. Seu autor pede desculpas, dá boa noite e diz: faço as regras aqui, os textos sairão agora às quintas-feiras, e nesta próxima haverá outro.


Juliano Machado, CPF 278.679.228-22, 0h33min do dia 23 de março de 2011.


p.s. - este texto não teve qualquer revisão. Algo que nunca mais se repetirá neste blogue.

6 Pitacos:

Nanci disse...

Juliano, caso queira realmente produzir algum texto interativo é bom que saiba que sempre haverá um leitor da Bazófia insone.
PS: Aceito a desculpa por esta terça-feira, mas outras virão e então, meu caro, nós, seus leitores, estaremos cá, ávidos e impiedosos...rs

Nanci disse...

...quando postei o comentário acima, seu texto ainda não possuia os três últimos parágrafos...acho que isso mostra que a interatividade não é possível no Blog, goste você ou não, só mesmo "on-line" no face, msn, twitter...até quinta.
Beijo.

Ducerisier disse...

bom, fui dormir duvidando muito, muito mesmo... acreditei que você estivesse em Bangkok e que lá ainda fosse algo meio entre 3 horas da tarde e meio dia...não fui muito esperta, pq esperei a atualização pelo face...a chamada, sabe? insone, preferia tê-la passado escrevendo... não é um texto como os outros... pelo menos não me causou a sensação deliciosamente trágica do último, mas sempre aprecio o "diálogo individual", como chamo essas reflexões nossas para alguém... como espiar pela fechadura... quinta eu esperarei outro... arrumei uma cadeira e vou deixá-la aqui para o próximo texto que vier...

Lívia disse...

Não sei bem o que dizer.
É um texto interessante. Tema recorrente da dificuldade de se encontrar um tema, da dificuldade de escrever... e da dificuldade em transitar pelo mundo virtual quando se gosta mesmo é de papel, né. Um loucura.
Realmente não sei o que dizer.
Saí do texto cantarolando "já conheço as pedras do caminho...".

Continue de caso e de prosa com a prosa (e poesia! por que não?), que pra esse caminho eu sempre volto. Estou achando muito bons esses exercícios mais ousados da Bazófia.
Conhecer o caminho não implica eterna repetição, mais do mesmo. Também permite pulinhos aqui e acolá, desvios, atalhos.

Comentário confuso, mas ainda comentário, sincero.

Até quinta!

Beijo (podia ser em tempo real o beijo!)

Lívia disse...

*umA loucura

Tatiana Machado disse...

Como bem assinalou a Lívia, o texto retoma o tema da falta de assunto, falta de sentido para escrever. Como experimento, sei que não é gratuito, que retoma a idéia de aplicar à forma o tema de não ter tema.

Não é sua melhor crônica, disso sabemos, mas não chega a espantar leitores ou provocar desprezo, tenho certeza. E, de qualquer modo, ainda serve de introdução, preparação, provocação, para o que veio na quinta-feira. E isso é bem interessante (mesmo que dizer isso aqui possa parecer leviano, já que tenho informações privilegiadas pelo fato de constar da lista de comentadores ilegitimados – forçosamente tornados ilegítimos – por serem pessoas de seu trato pessoal).

De qualquer forma, eu continuo aqui. Continuarei sempre.