(este texto foi originalmente publicado em 22 de maio de 2007)
Realmente ando sem paciência para o cinema. Não vou a uma sala de projeção há anos, e não sinto falta. Quando, raramente, arrisco ver um DVD (na casa de alguém, não possuo essa tecnologia) de lançamentos, acabo me frustrando muito e entendendo porquê deixei de ver novas produções. Aplicação genérica a Hollywood, europeu, brasileiro etc (não tenho visto, por conseqüência, os recentes iranianos, os últimos que vi continuam sendo ótimos).
Os dois últimos (três, na verdade) filmes que acompanhei no cinema foram “As Horas” e os dois volumes de Kill Bill (vi também uma porcaria de comédia da qual nem me lembro o nome, que só valeu a pena pela companhia). Excelentes filmes. Talvez somente por isso que me empertigue para tocar no assunto cinema, uma vez que não é por acaso que a palavra não está no rol taxativo (e presunçoso, escusado seria dizê-lo) da Bazófia, logo aí em cima.
“Kill Bill” traz tantas referências que não saberia por onde começar a cita-las, se quisesse citar todas que eu consegui observar. Mas uma que me chamou atenção no primeiro volume, foi a do personagem de Michael Parks, o xerife que investiga o massacre de El Paso. Texano, óculos Rayban caçador, cusparadas a cada meio metro, ele trata o policial que parece ser seu assistente mais próximo de son number 1. Bem, de cara saquei que era uma referência a alguma coisa, e pensei, por ignorância, que seria um costume local. Me enganava.
Semana passada em seu blogue de cultura e crítica (http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br), Marcelo Coelho retomava assunto de sua coluna na Folha impressa às quartas-feiras, seu gosto pelos detetives dos romances policiais. Coelho se detém, sobretudo em Chesterton, mas lá a certa altura, para encorpar seu argumento — que não me interessa citar (sugiro a leitura dos artigos se porventura tenha-se interesse: a) por literatura policial; b) por crítica literária; c)por literatura ou d) curioso incorrigível) — ele fala do famoso detetive Charlie Chan, dos filmes da década de 1940, baseados nas histórias de Earl D. Biggers. Eu nunca li Biggers (meu predileto disparado sempre foi Poe. Nada melhor do que o encadeamento lógico de Dupin, inferindo o pensamento de seu amigo a partir do piso de uma calçada em Paris, no célebre “O mistério de Marie Roget”), mas cheguei a assistir a um filme com o personagem Charlie Chan. Tenho de confessar de que me lembro de quase nada da história, do mistério e sequer do próprio Chan: mas me lembrei de seus ajudantes, sempre à sua volta a trazer nenhuma espécie de auxílio realmente útil.
Mas o melhor de tudo do texto de Marcelo Coelho foi o resgate que fez em minha memória de o detetive Chan chamar esses seus ajudantes enumerando-os, para facilitar o trato cotidiano, assim: son number 1, son number 2 etc. Ora, cá temos o Tarantino e suas referências, apesar de curta a seqüência em que aparece o filho número 1 do xerife de El Paso, é suficiente para se perceber que o ajudante não é exatamente indispensável no correr daquele incidente.
A verdade é que me deliciei com a descoberta banal, mas divertida, como se tivesse entendido um pouquinho mais do filme. O caso é que recentemente, num texto anterior, conversava com a Marlene, leitora do blogue, acerca de referências que iam surgindo aqui e acolá em textos lidos, músicas ouvidas e outras manifestações artísticas. Chego à conclusão de que esse diálogo é muito divertido, se não quando nos faz sentir a extensão das coisas que vamos amealhando ao longo da vida, e dá até para, numa alto-lambida, felicitarmo-nos pela memória que enfim ainda guarda coisas banais, mas agradáveis de se recordar e relacionar. Para confirmar isso, não poderia deixar de citar que os auxiliares bocós de Charlie Chan, e do xerife de El Paso (se há um filho cujo número é 1, imagina-se haja, no mínimo, o número 2) me fez agora recordar dos ajudantes do agrimensor K, talvez muito mais atentos e perscrutadores, mas igualmente de utilidade duvidosa para seu mestre, que afinal, segundo Kafka, optou por chamá-los de Arthur, a ambos. (Na foto Charlie Chan e seu filho número 3, depois, o xerife Earl de El Paso e seu filho número 1)
Realmente ando sem paciência para o cinema. Não vou a uma sala de projeção há anos, e não sinto falta. Quando, raramente, arrisco ver um DVD (na casa de alguém, não possuo essa tecnologia) de lançamentos, acabo me frustrando muito e entendendo porquê deixei de ver novas produções. Aplicação genérica a Hollywood, europeu, brasileiro etc (não tenho visto, por conseqüência, os recentes iranianos, os últimos que vi continuam sendo ótimos).
Os dois últimos (três, na verdade) filmes que acompanhei no cinema foram “As Horas” e os dois volumes de Kill Bill (vi também uma porcaria de comédia da qual nem me lembro o nome, que só valeu a pena pela companhia). Excelentes filmes. Talvez somente por isso que me empertigue para tocar no assunto cinema, uma vez que não é por acaso que a palavra não está no rol taxativo (e presunçoso, escusado seria dizê-lo) da Bazófia, logo aí em cima.
“Kill Bill” traz tantas referências que não saberia por onde começar a cita-las, se quisesse citar todas que eu consegui observar. Mas uma que me chamou atenção no primeiro volume, foi a do personagem de Michael Parks, o xerife que investiga o massacre de El Paso. Texano, óculos Rayban caçador, cusparadas a cada meio metro, ele trata o policial que parece ser seu assistente mais próximo de son number 1. Bem, de cara saquei que era uma referência a alguma coisa, e pensei, por ignorância, que seria um costume local. Me enganava.
Semana passada em seu blogue de cultura e crítica (http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br), Marcelo Coelho retomava assunto de sua coluna na Folha impressa às quartas-feiras, seu gosto pelos detetives dos romances policiais. Coelho se detém, sobretudo em Chesterton, mas lá a certa altura, para encorpar seu argumento — que não me interessa citar (sugiro a leitura dos artigos se porventura tenha-se interesse: a) por literatura policial; b) por crítica literária; c)por literatura ou d) curioso incorrigível) — ele fala do famoso detetive Charlie Chan, dos filmes da década de 1940, baseados nas histórias de Earl D. Biggers. Eu nunca li Biggers (meu predileto disparado sempre foi Poe. Nada melhor do que o encadeamento lógico de Dupin, inferindo o pensamento de seu amigo a partir do piso de uma calçada em Paris, no célebre “O mistério de Marie Roget”), mas cheguei a assistir a um filme com o personagem Charlie Chan. Tenho de confessar de que me lembro de quase nada da história, do mistério e sequer do próprio Chan: mas me lembrei de seus ajudantes, sempre à sua volta a trazer nenhuma espécie de auxílio realmente útil.
Mas o melhor de tudo do texto de Marcelo Coelho foi o resgate que fez em minha memória de o detetive Chan chamar esses seus ajudantes enumerando-os, para facilitar o trato cotidiano, assim: son number 1, son number 2 etc. Ora, cá temos o Tarantino e suas referências, apesar de curta a seqüência em que aparece o filho número 1 do xerife de El Paso, é suficiente para se perceber que o ajudante não é exatamente indispensável no correr daquele incidente.
A verdade é que me deliciei com a descoberta banal, mas divertida, como se tivesse entendido um pouquinho mais do filme. O caso é que recentemente, num texto anterior, conversava com a Marlene, leitora do blogue, acerca de referências que iam surgindo aqui e acolá em textos lidos, músicas ouvidas e outras manifestações artísticas. Chego à conclusão de que esse diálogo é muito divertido, se não quando nos faz sentir a extensão das coisas que vamos amealhando ao longo da vida, e dá até para, numa alto-lambida, felicitarmo-nos pela memória que enfim ainda guarda coisas banais, mas agradáveis de se recordar e relacionar. Para confirmar isso, não poderia deixar de citar que os auxiliares bocós de Charlie Chan, e do xerife de El Paso (se há um filho cujo número é 1, imagina-se haja, no mínimo, o número 2) me fez agora recordar dos ajudantes do agrimensor K, talvez muito mais atentos e perscrutadores, mas igualmente de utilidade duvidosa para seu mestre, que afinal, segundo Kafka, optou por chamá-los de Arthur, a ambos. (Na foto Charlie Chan e seu filho número 3, depois, o xerife Earl de El Paso e seu filho número 1)
1 Pitacos:
Veridiana, ah, eu comentei só um pouquinho, en passan. Não sei comentar cinema e faz tempo que vi "As Horas". Não li o livro do Cunninghan (?, mas li Doloway da Virginia Wolf.
beijo
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