quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

NOME; SOBRENOME

Julinho

Na década de 60 o Santos foi para São José do Rio Preto fazer um jogo pelo campeonato paulista. O time que tinha Dorval, Pepe entre outros, além é claro do Pelé, era já imbatível à época. Acontece que naquele dia, o América, time local, venceu a equipe praiana por 3 x 2, com uma atuação brilhante de um zagueiro chamado Julinho, que simplesmente, dizem os comentaristas, anulou o Rei. Na mesma noite, após colher os louros da vitória, dar entrevistas no rádio e tudo o mais, o Julinho foi encontrar a namorada num bairro de Rio Preto. Ao que consta nos ditos populares, o pai da mocinha não era lá muito fã do jogador, desaprovando o namoro, e tendo mesmo proibido a filha e ameaçado o namorado. Julinho levou a moça para um botequim das cercanias, e num adergo maior que o estádio do Teixeirão, houve uma discussão entre um torcedor fanático do Santos e outro fiel ao América. Bom, demorou pouco para perceberem que o genial zagueiro que anulara Pelé estava ali, e então a confusão aumentou. Julinho, para não entrar na disputa, disse que não era Julinho, mas na continuidade do calhar que o ajudava apareceu o pai da namorada, vindo por escutar a gritaria em torno de “algum” Julinho. Ao vê-lo agarradinho com a filha, num momento de histeria, sacou de uma pistola, e antes de disparar duas vezes, teria dito: “Ah, Julinho, é você mesmo, é você mesmo, Julinho, eu te avisei...”. Parece que o santista que deu azo à confusão confabulou baixinho aos colegas americanos: “Era o Julinho mesmo, mas não era pra tanto matar o rapaz. Esse aí é mais santista do que eu”.
(na foto, minha irmã Tatiana, qunado ainda era um tiquinho de gente)
Boamorte
Agora a minha otorrinolaringologista, de posse de um exame de polissonografia, asseverou-me que preciso de fazer uma cirurgiazinha na garganta, ou amídala, ou lá o que seja para desobstruir a passagem de ar. Calcula ela que eu vá poder dormir melhor, ou dormir um pouco, coisa que me seria uma benção visto que há muito não passo uma noite de sono a que chamamos reconfortante. A doutora é velha conhecida e amiga da família, inclusive já fez este mesmo procedimento cirúrgico na minha irmã Tatiana, e isso quando ela era só um tiquinho de gente. O que é divertido na doutora é o seu sobrenome: Boamorte. Isso não me incomoda de maneira alguma (parece que assustou um pouco minha mãe nos idos da cirurgia da Tatiana), até porque, a Dra. Rosângela é um exemplo de competência, conhecimento e atenção minuciosa aos pacientes. Mas, não deixa de ser curioso que a Boamorte passe sua vida tentando fazer da vida alheia uma Boavida e que, se por acaso for a hora de ir desta encontrar o Julinho, seja pelos afagos de uma boa morte, nem que seja a nossa senhora que o Manuel Bandeira costumava invocar em suas preparações para a visita da “dama negra de muita distinção” (é bom que se diga que no caso dele a tal senhora demorou 82 anos para lhe sorrir).
Ciência Divertida
Em 1948, participando dos debates que discutiam os modelos de big bang na evolução do universo, o cientista George Gamow assinou junto com seu orientando, Ralph Alpher, um artigo famoso por representar os estágios primitivos do cosmo, fazendo a previsão de que a radiação, na forma de fótons, vinda do início do big bang, ainda deveria estar espalhada por aí (e por aqui, em 2007, também), embora com temperatura reduzida a apenas uns poucos graus acima do zero absoluto (o que é um frio de doer o osso). Quando foi publicar seu artigo, Gamow convidou um colega cientista nuclear (e que nada tinha que ver com as pesquisas sobre os fótons) para emprestar o seu nome na assinatura da publicação. Hans Bethe topou a brincadeira e o artigo sobre o nascimento e origem do universo saiu assinado por Alpher, Bethe e Gamow, as três primeiras letras do alfabeto grego. Difícil imaginar que o Julinho estivesse escapado da fúria do pai homicida se se chamasse Boamorte (manchete: “beque central Boamorte acaba com Pelé em Rio Preto), como também não acho que melhor será a minha cirurgia do mês que vem se for com a Dra. Rosângela Gamow. Mas, Julinho Gamow Boamorte assinando um artigo sobre as temperaturas do universo no instante imediato ao big bang seria convincente até demais. E a Julieta disse ao vento (sem saber que Romeu a escutava): “(...)What's in a name? that which we call a rose/ By any other name would smell as sweet (...)”.
(este texto foi originalmente publicado em 12 de março de 2007)