quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Terça-feira

O Carlos Heitor Cony me disse, por esses dias, que a má vontade que dedicamos à segunda-feira, ele estica para o resto da semana. Ora, tomo-lhe a expressão ou antes o sentimento, para dizer que o sorriso da terça-feira me enfastia.
A segunda mal existiu, tão obscenamente foram suprimidos exercícios de pensamento, físico, social. Passou na modorra da manhã, da tarde, da noite. O jornal não foi lido. Ingênua decisão saltar assim a segunda, supondo começar na terça a semana. Martes tornou-se lunes pero no mucho, mal resolvida, que no ocaso de uma alma também indecisa, aguou, e o mesmo promete o resto dos cinco dias.
Irônico, o tempo surgiu lindo, blasfemo, cheio de sol. Os felizes e sadios esbaldam-se, passada a segunda-feira sonolenta e estando esta terça tão gorda, ainda que o calendário marque já tantos dias adiante da quarta-feira de cinzas.

Haja sorrisos, piadinhas, clichês... Não há mais guerras? Não há mais fome? O aquecimento global agora é esfriamento? Os bancos estão a dar dinheiro a qualquer um? Cientistas sintetizaram o orgasmo em pílula? Arre, pessoas todas felizes por viver, esperançosas por nada, otimistas por convicção, ao diabo!... Vou dormir, pois amanhã é quarta, talvez chova até ao dilúvio, ou bem caia um meteoro no meio da América do Sul.
(este texto foi originalmente publicado em 03 de março de 2007, uma terça-feira)