quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Jean Baudrillard

Comecei há alguns dias ler "As transparências do mal", de Jean Baudrillard. Estou gostando do livro, me parece uma abordagem filosófica original no que tange o homem contemporâneo. Mais ainda não sei explicar nada, nunca li nada dele, nem sequer umas indicações de uns poucos textos na minha época de faculdade.


Como nunca o havia lido, nunca o havia citado em textos. Como faz pouco que passei a lê-lo, motivo ainda não tinha para escrever sobre ele. Aconteceu que hoje aconteceu de eu deixar de ler o livro do homem para me meter numa faina que afinal acabou dando num texto que está na sessão "Escatológico". Pois é, pela primeira vez na minha vida citei um livro de Jean Baudrillard, num poste que foi ao ar ali pelas 17h.


Jean Baudrillard morreu hoje, em Paris. Li essa notícia no sítio do uol (que raramente entro, fui lá procurar o resultado da partida entre Liverpool e Barcelona, que o Terra, portal que eu mais uso, não informava), uma notinha publicada às 16h11min. Uma coincidência boba, mas que me tocou (embora a notinha tenha sido publicada antes de eu terminar o texto, só a li depois de ter postado o "Capinar").


Quando o Drummond morreu, em 17 de agosto de 1987, eu estava para completar nove anos. Eu conhecia "Quadrilha" e já tinha de alguma forma me afeiçoado infantilmente ao magrelo poeta. Não senti sua morte com força, mas percebi que alguém especial havia partido. Anos depois, não muitos, me deparei com um poeta maior, e senti enfim sua morte.


João Cabral de Melo Neto morreu a 09 de outubro de 1999. Eu estava viajando para o sul do país nessa data. Quando cheguei em casa, na segunda-feira, 11 de outubro, vi o jornal de sábado, a Folha Ilustrada em cima do piano com os dizeres "Morre João Cabral". Na praia, com amigos, alienado do mundo, não ficara sabendo do falecimento do poeta. Senti uma ausência funda, eu a conversar com os parentes e ali no fundo, em cima de um piano calado a notícia de um grande poeta que agora se calara também.


A morte. Surda como no poema de Larkin. Vou terminar de ler o livro do Baudrillard, quererei provavelmente ler outros, mas agora ele está calado. No meu capinar de hoje, desenterrando insetos e sujidades, não precisei de nenhum Yorik para me entregar o crânio, e nenhum Hamlet para dizer que se não sabemos nada daquilo que aqui deixamos o que nos importa deixa-lo antes. Alguns nos deixam antes, parece-me que é a vida.


Estou que no fim, o meu casinho nem tão curioso de citação póstuma sem o saber ficou de homenagem involuntária a um pensador. Sincera homenagem.


p.s. - o texto começou ser escrito quinze minutos antes da meia noite, portanto, dia 06. Ficará com a data do término, meia-noite e pouquinho do dia sete.


(texto originalmente publicado em 06 de março de 2007 no endereço: http://julianomachado.blog.terra.com.br/?m=200703&&page=3 )
(na foto, Jean Baudrillard, falecido em 06 de março de 2006, em Paris)