terça-feira, 16 de setembro de 2008

Espinosa e a hera dos pitacos

Há um mês atrás, de férias, resolvi cortar a hera do muro da casa de mamãe. Trabalho árduo e extenuante, para gente forte e alongada. Portanto, para mim. Comprei lá uns utensílios de jardinagem, de jardinagem pesada. Preocupou-me inclusive desconfiassem fosse o loirinho dos olhos claros esquartejar alguém (apesar de ser forte e consistente muscularmente, não sou robusto ao ponto de parecer, inclusive na coloração da minha cutes, que ganho a vida cortando a facão e enxadão plantas ao sol do meio-dia). Comprei luvas também, não queria as mãos machucadas. Apesar de não atrapalharem ao tocar a valsa brilhante, poxa, calos doem.

Foi divertido demais. O sol é uma benção no inverno brasileiro. Arde miudinho e o céu fica de um azul maravilhoso. Aproveitar as férias sentindo o cheiro de mato, vendo as pessoas nos carros apressadas, as senhoras que saem à rua para apanhar um pouco de ar, os cães, os pássaros, a molecada jogando bola... Tudo animador, sorridente. Eu cortava a hera sem esforço demasiado, satisfeito de fazer um movimento matutino sem compromisso com horários, e me sentindo útil no trabalho manual que ia executando.

Cacei um chapéu de festa junina que fora da minha irmã. Tirei as rendas e as trancinhas negras, ficou jóia. Na lide acabei encontrando um ninho de passarinho! Ah, que coisa mais linda as duas pequeninas avezinhas... Caros leitores, eu menti. A felicidade descrita no poste anterior é cerca de treze e meio por cento menor do que o propalado no último índice. Ora, me perdoem. Ai amores, não briguem, não me castiguem, ai digam que me amam e eu não minto mais. Na verdade não chega a ser uma mentira, mas talvez um exagero ao descrever a situação. Não eram todos os poros que exalavam felicidade. Creio que só as apócrinas (alguém aí sabe se alegria tem cheiro?). Então é isso. Apesar de tudo, não sei se vou poder falar apenas de passarinhos aqui na Bazófia (sinto dizer, a história da hera era (te peguei, Elcio) uma idéia que me ocorreu de falar do sol e das belezas singelas na vida do simples homem. Eu nunca encostei sequer numa tesoura em minha vida toda. Os passarinhos não existem a historieta do começo não tem fim).

Estou com um problema que gostaria de compartilhar com vocês (na verdade são dois, pois queria escrever sobre Espinosa e fiquei com vergonha, já que a Jú Pacheco entende muito do assunto. Mas deixa isso pra lá, também não vou falar aqui do meu complexo por ter as canelas finas...). O problema é o seguinte: quero mudar o sistema de responder aos pitacos. Do jeito que é, quem entra na página lê lá quem tem x pitacos. Mas na verdade, como eu respondo um a um individualmente e o blogger conta os meus como se fossem os de um visitante da página, então os pitacos de fato são x/2. Acho isso um saco, propaganda enganosa. A Veridiana, sempre ela, achou maneira de melhorar isso, fazendo com que eu possa responder em itálico ou outro gracejo que diferencie - embaixo do comentário original - a minha resposta, sem contar como um pitaco a mais. Mas tem um problema: é uma ferramenta de um outro site e ao acoplá-la (usando um termo interessante que não é da informática, creio, acho que caiu bem) à minha página, os pitacos, todos, anteriores desaparecerão!

Normalmente eu faria o que me desse na telha, porque sou meio folgado e o blogue é meu. Mas como os comentários são parte integrante dessa brincadeira toda, e como são, muitas vezes, muito mais interessantes do que os próprios textos e, sobretudo, foram escritos por vocês, leitores, não tenho coragem de simplesmente desaparecer com eles daqui. Que faço? Alguém tem alguma sugestão? Será que o custo da ação não vale o benefício? Ficava muito feliz de alguém me dar uma luz sobre o assunto.

Bom, já está chegando meia-noite, preciso postar ainda na terça. Semana que vem comento sobre às segundas. Haverá entrevistas.

3 Pitacos:

Jú Pacheco disse...

Rsrsrsr...
Adoraria ler você falando de Espinosa... rs...
Honrada com a citação.

Beijo!

Elcio Machado disse...

Juliano, pois é, me pegou. Não é, a bem da verdade, o primeiro que fez isso. Mas o fez de maneira brilhante. Há um tipo de ficção, digamos, tão extremamente ficcional, que sabemos não ter um pingo de realidade nela. Li, muito tempo atrás, algo de JJ Duran, e umas viagens fantásticas em naves futuristas. Saber que não havia realidade naquilo não impedia o gostoso exercício de imaginar as cenas descritas no volumoso tomo. O que dizer, então, da descrição de cenas que evocam cenário conhecido, com alguém muito conhecido (e querido)? Soou, è vero, um tanto estranho imaginar você manipulando grandes tesouras, encarapitado no alto de uma escada. Mas verossímil, sim.
Afinal, "também as palavras, como a imaginação, podem ser a causa de muitos e grandes erros, se com elas não tivermos muita precaução" (do Baruch, citado em http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200502182236 ). Posto, é claro, que o ínfimo que sei dele vem de uns escritos da Marilena Chauí.
Quanto à propaganda enganosa, não é enganosa, não. Tem a ver com interatividade. De longe em longe posto algum comentário no Observatório da Imprensa, no qual percebo duas posturas: uma, do tipo do observador-mor Dines, que tão alevantado se coloca, que jamais se incomoda em postar um comentário para comentar um comentário de algum de seus cada vez mais raros leitores. Outra, do tipo do professor Deonísio da Silva, que, por vezes, posta sim algum comentário em resposta a algum leitor. É necessário separar o escrito original, o texto, de seus desdobramentos, os comentários, sejam eles de leitores mundo afora ou do próprio autor. Então, cada pitaco, seja do autor ou de outrem, tem seu valor próprio, e deve integrar a contabilidade do blog. É só uma opinião, claro. Mas é o que realmente acho.
Saudade. Logo, logo, praia. Beijo.

Anônimo disse...

Ju, olha só que interessante: li Espinosa e a hera dos pitacos ontem, não comentei, senti que precisava digerir melhor. De alguma maneira, o que você refere como mentira, tinha para mim um outro sentido, naquele momento inominável. Enquanto fazia a leitura, vagamente lembrei-me de um outro texto seu publicado há 1 ano e qualquer coisa, chamado “Capinar”, lá no seu blogue anterior. Uma coisa puxando outra (eita Livres Associações! - acho que sou ótima paciente de Psicanálise...rs), mais tarde lembrei-me também que, em seguida ao Capinar, você publicou uma homenagem a Jean Baudrillard. Então, eis que o inominável ganhou identificação: SIMULACRO – um conceito sobre o qual escreveu o pensador francês, no livro Simulacro e Simulações (livro inspiração para os diretores de Matrix). Entretanto, eu ainda não tinha clareza do que comentar e agora voltei ao seu blogue e, neste exato momento, ao abrir a janelinha de comentários da Bazófia, deparo-me com o comentário do Elcio.
O pensador francês fala em simulacro como uma hipótese. Fala também que na imagem existe um universo paralelo. Para Baudrillard a imagem tem fases sucessivas: "reflexo de uma realidade profunda; mascara e deforma uma realidade profunda; mascara a ausência de realidade profunda; não tem relação com qualquer realidade: ela é o seu próprio simulacro puro." - o fim da separação entre realidade e simulacro...rs
Portanto, ao pensarmos o conceito de simulacro e sua aplicação à percepção de tudo o que parece "realidade", mas da qual não podemos dizer onde está a diferença entre "representação" e "o que é representado", não se pode falar em mentira ou simulação - neste caso, ninguém apenas mente ou age sob falsas pretensões. Eu amo você...rs
beijo
marlene
(ps: quanto ao registro dos pitacos, minha opinião também coincide com a do Elcio).