quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O texto que gostaria de ter escrito

Não costumo meter neste espaço endereços para os textos de que gostei ao longo da semana nos jornais ou blogues que leio. Também não tem por hábito este blogue sugerir leituras ou livros que as ventas do signatário julguem bons. O máximo que me tenho permitido, e ainda assim contrito, é expor na coluna da direita os blogues que mais frequentemente leio (e mesmo assim reticente, vez que acompanho com assiduidade muitos mais dos que lá estão).

Contudo, acalentando o salubre hábito de ler os vários e bons cronistas diariamente (e também os ruins, com quem, não se iludam, também se aprende) do universo de jornais e internete, sempre aparecem umas palavras a que acedo com inveja contida: “puts, gostaria de ter escrito esse texto”. Mas, como salientei já nas escusas primeiras, não cedo à tentação de vir cá sugerir que os meus já fatigados leitores vão a ler o que enfim gostei.

Mas vou abrir uma exceção. Uma perigosa exceção, pressuroso de que a possa repetir em futuro (qual futuro? Nem sei quanto ainda durará esta Bazófia). Abaixo no meu espaço um poste do blogue http://ana-de-amsterdam.blogspot.com/ que saiu publicado nesta semana. Não pude solicitar à autora que me permitisse copiar-lhe o texto, entretando, há algumas práticas que o meio virtual consagra à custa de um maior respeito pela autoria. Esse blogue, não titubeio em dizer-lhes, é o meu preferido. Mal lho leio, sorvo-o. E é preciso ainda admitir: nem sei o quanto o alcanço de fato.

Sobre o texto em si, muitos, senão todos já o disseram de muitas e muitas formas brilhantes, portanto bem não sei explicar o que me comova especificamente, afora a sensação de que, por mais que se repita, estes aí sentimentos necessitam sempre, a quantas vozes, serem e serem repetidos até ao silêncio inexorável e final. Eis o texto:

Vício
O Flaubert aconselhava a ter cuidado com a tristeza. Cuidado com a tristeza, dizia ele, pode tornar-se num vício. Eu percebo bem o que ele queria dizer. Sou depressiva há muitos anos e não sei como me livrar da tristeza que toma conta de mim. Já tentei psicoterapeutas e psiquiatras. Já tentei o suicídio. Já tive filhos para que a responsabilidade da maternidade soterrasse a tristeza. Já tentei preencher o tempo com merdas e merdinhas para experimentar a felicidade dos gestos rotineiros. Até já tentei tomar decisões ridiculamente fracturantes que espantassem dos meus dias a solidão que neles se instalou. Nada resulta. É preciso força de vontade para nos livrarmos de um vício e eu não a tenho. A tristeza serve para desculpar a inércia e, sobretudo, a mediocridade.
posted by ana at 7:00 AM

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Notas

São nove horas da manhã. Estou sentado numa mesinha no lado esquerdo da praça delle Erbe de frente para um delicioso mercado de hortifruti a céu aberto. Enquanto digito, bebo apenas água mineral sem gás e mordisco um pedaço de broa muito seca, e por isso mesmo saborosa. Tomei o café da manhã muito cedo no hotel e sai para caminhar carregando a maleta do lap-top. Verona é uma cidade para se caminhar (diferente de como se caminha em Paris, em Roma, em Londres ou Madrid). Não obstante seja a segunda maior cidade do Vêneto, depois de Veneza, paira sobre ela uma aura mais sutil que cidades de mesmo porte (quem quiser procurar ruínas terá a segunda maior, também, neste quesito, na Itália inteira, perdendo só para a capital). Vim para cá fugindo de de uma desilusão e sequer poderia imaginar o que encontraria dois dias depois da minha chegada, no último domingo.