(clicando-se no título deste post, chega-se à "As flores de plástico")
Existe época de aves? Digo, assim como época de morango, florada de azaléia e assim por diante? Eu prometo que não sei, mas poderia bater o pé e fazer preces de que estamos na época dos pica-paus. Só assim eu poderia conceber que tenha visto tantos deles por aí, numa profusão que transcende em muito o comum de olhar e ver pica-paus.
Mesmo agora quando saí para a corridinha do fim de tarde foram três! Note bem, estou falando de três pica-paus! Em área urbana, ainda que bastante arborizada. Supondo que dois formavam o casal, quem era o terceiro? O filho? Muito crescido para ainda ter com os pais. O amante? Bom, não sou ornitólogo e desconheço os costumes sexuais dessas aves.
Fiquei percebendo que a primeira idéia, meio platônica por assim dizer, que me surge à mente quando penso em pica-pau é o da Universal Estúdios, criado pelo Walter Lantz na década de quarenta. Bem, nada mais diferente do que o nosso pica-pau tupiniquim, que muitas vezes tem um ventre amarelo de plumagens que vão até ao pescoço, envolvendo-lhe pelo dorso que tromba, por fim, no indefectível topete vermelho, este sim, inconfundível. O pica-pau do desenho animado todo mundo sabe como é, e pica-pau azul claro todo mundo também sabe que não existe (para não falar do bico ama
Este texto queda-se aqui. Isto não é Kafka e nem pretende, mas vou arriscar, como se estivesse frente a frente com quem me lê, em conversa grave. Não vejo mais sentido agora em falar de pica-paus. Acabo de saber da morte de duas irmãs gêmeas, em acidente na estrada que liga Bueno de Andrade à minha Araraquara. Vinte e um anos. Parece-me perderam o controle do veículo. Eu não sei exatamente o que pensar sobre isso, mas me chocou. Chocaria a qualquer um? Morreram oito pessoas no acidente com o Learjet em São Paulo, são mortes menos chocantes? Há como valorar isso? Eu não conhecia as meninas que morreram, mas será que a proximidade geográfica, o fato de eu mesmo passar com alguma freqüência pela estrada em questão são ingredientes para me comover mais? Repito, eu não sei.
O que sei é que Sêneca tem razão, que Hamlet tem razão e que Larkin tem razão. Manuel Bandeira tem razão, pois a vida é uma agitação feroz e sem finalidade. Muitos outros ainda têm razão. Quem não tem razão sou eu: minha única sorte é não acreditar em deus e não ter que me revoltar com ele, não acreditar em destino e não ter que com ele me preocupar. A estupidez da vida é algo tão latente que não consigo sequer pensar em filosofias. Seria culpa de ter uma percepção demasiado acentuada do caráter transitório da vida? Seria problema com neurotransmissores? Seria fingimento de quem não tem opinião, e tem medo? Eu não sei. Sei apenas que a morte, surda, caminha ao lado. Afinal, como notaram as minhas flores de plástico: "(...) a percepção arrastada ao longo dos séculos de que afinal, à morte, ninguém pode fazer esperar eternamente, corroborando com isso o príncipe hamlet, que muito anteriormente havia dito que se não sabemos nada daquilo que aqui deixamos, que nos importa deixa-lo antes?
Mesmo agora quando saí para a corridinha do fim de tarde foram três! Note bem, estou falando de três pica-paus! Em área urbana, ainda que bastante arborizada. Supondo que dois formavam o casal, quem era o terceiro? O filho? Muito crescido para ainda ter com os pais. O amante? Bom, não sou ornitólogo e desconheço os costumes sexuais dessas aves.
Fiquei percebendo que a primeira idéia, meio platônica por assim dizer, que me surge à mente quando penso em pica-pau é o da Universal Estúdios, criado pelo Walter Lantz na década de quarenta. Bem, nada mais diferente do que o nosso pica-pau tupiniquim, que muitas vezes tem um ventre amarelo de plumagens que vão até ao pescoço, envolvendo-lhe pelo dorso que tromba, por fim, no indefectível topete vermelho, este sim, inconfundível. O pica-pau do desenho animado todo mundo sabe como é, e pica-pau azul claro todo mundo também sabe que não existe (para não falar do bico ama
Este texto queda-se aqui. Isto não é Kafka e nem pretende, mas vou arriscar, como se estivesse frente a frente com quem me lê, em conversa grave. Não vejo mais sentido agora em falar de pica-paus. Acabo de saber da morte de duas irmãs gêmeas, em acidente na estrada que liga Bueno de Andrade à minha Araraquara. Vinte e um anos. Parece-me perderam o controle do veículo. Eu não sei exatamente o que pensar sobre isso, mas me chocou. Chocaria a qualquer um? Morreram oito pessoas no acidente com o Learjet em São Paulo, são mortes menos chocantes? Há como valorar isso? Eu não conhecia as meninas que morreram, mas será que a proximidade geográfica, o fato de eu mesmo passar com alguma freqüência pela estrada em questão são ingredientes para me comover mais? Repito, eu não sei.
O que sei é que Sêneca tem razão, que Hamlet tem razão e que Larkin tem razão. Manuel Bandeira tem razão, pois a vida é uma agitação feroz e sem finalidade. Muitos outros ainda têm razão. Quem não tem razão sou eu: minha única sorte é não acreditar em deus e não ter que me revoltar com ele, não acreditar em destino e não ter que com ele me preocupar. A estupidez da vida é algo tão latente que não consigo sequer pensar em filosofias. Seria culpa de ter uma percepção demasiado acentuada do caráter transitório da vida? Seria problema com neurotransmissores? Seria fingimento de quem não tem opinião, e tem medo? Eu não sei. Sei apenas que a morte, surda, caminha ao lado. Afinal, como notaram as minhas flores de plástico: "(...) a percepção arrastada ao longo dos séculos de que afinal, à morte, ninguém pode fazer esperar eternamente, corroborando com isso o príncipe hamlet, que muito anteriormente havia dito que se não sabemos nada daquilo que aqui deixamos, que nos importa deixa-lo antes?
p.s. – escusado dizer que o título do texto não seria este, e que o texto, mesmo, também não seria. Mas absolutamente perdi o fio da meada e não consegui retomar o argumento das aves de topete vermelho. Deu no que deu, só posso pedir desculpas, ainda que melhor seria não tê-lo publicado.